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Já que é nos primeiro anos de vida que se
aprende a comer, conheça as principais sugestões de especialistas para
oferecer uma boa educação alimentar ao seu filho
Um estudo americano publicado na revista Clinical Pediatrics, depois de
avaliar crianças e adolescentes obesos, concluiu que é nos primeiros
anos de vida que uma pessoa aprende a comer, pois descobriu que mais da
metade já se encontrava nessa situação aos 2 anos de idade. Segundo os
pesquisadores, os hábitos alimentares aprendidos nessa primeira fase
orientam a criança em seu futuro e são difíceis de serem modificados.
Justamente nesse período, os pais têm mais dúvidas à mesa tentando
cumprir bem o seu papel. Conheça as principais sugestões dos
especialistas para oferecer uma boa educação alimentar ao pequeno.
1. Seja o exemplo
Papai e mamãe são os maiores exemplos, mas isso nem sempre é bom.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, 40% dos adultos brasileiros
são obesos, o que prova: a alimentação dos pais não reflete bons
hábitos. Não adianta nada o casal acostumado a pedir sanduíche no almoço
e comida chinesa no jantar imaginar que ensinarão o filho a comer
saudavelmente. Se ele não presenciar a mãe saboreando uma deliciosa
salada, não vai fazer o mesmo. Iniciar as modificações desses hábitos
ainda durante a gravidez - que também exige uma boa alimentação - dará
mais tempo para efetivá-las até que o bebê comece com as papinhas. A
mudança, em geral, é difícil, principalmente nas primeiras semanas, mas o
investimento vale a pena. Caso a criança vá ficar aos cuidados de outra
pessoa, como parentes e berçários, verifique como é a conduta deles
também.
2. Aprenda a cozinhar
Segundo a maioria dos especialistas, o fato de as famílias comerem de
maneira inadequada tem a ver com a falta de tempo e a disposição para
cozinhar. Primeiro passo: distribua tarefas e organize os horários para
que alguém consiga ser o cozinheiro. Muitas pessoas descobrirão que
preparar um prato saudável requer menos tempo do que se imagina. Pedir
ajuda a parentes, amigos e vizinhos gourmet também é uma boa dica. Já
existem no mercado livros de culinária destinados aos cozinheiros de
primeira viagem, com fotos e textos bem didáticos. Quando aprendem a
cozinhar, os pais também ficam mais conscientes sobre as vantagens de
uma alimentação saudável. E podem (por que não?) descobrir um prazer
nisso.
3. Diversifique a papinha
Uma boa papinha precisa incluir os três grupos alimentares:
construtores (carnes de boi, de frango e de peixe, feijão, ervilha,
proteínas), energéticos (arroz, macarrão, batata, carboidratos em geral)
e reguladores (legumes, verduras, fibras). Diversifique bastante.
Oferecer o máximo possível de variedades de alimentos é importante para
garantir o fornecimento de todos os nutrientes necessários ao
crescimento do bebê. É importante também para ele conhecer e se
acostumar com a comida, descobrir suas preferências e tolerâncias.
Quando é colocada em contato com muitos tipos de alimento, a tendência
da criança é aceitar tudo, incluindo frutas, legumes e verduras. Quanto
menos variado for o cardápio, mais seletiva ela será, principalmente na
adolescência, o que pode prejudicar seu desenvolvimento e até o futuro
controle de peso.
4. Prepare combinações apetitosas
Comida de criança tem de ser gostosa e não apenas uma soma de
ingredientes. Crie combinações que um adulto também apreciaria, com bom
senso, levando em conta os diferentes sabores e as misturas possíveis - e
cabíveis. Não é recomendável utilizar sal, pois os alimentos já contêm
sódio suficiente para suprir as necessidades diárias de uma criança - em
excesso, ele causa hipertensão e problemas renais. Personalize a
receita com temperos in natura, como cebola, alho, salsa, cebolinha e
outras ervas, para deixar a papinha mais gostosa. Comida malfeita
desestimula o bebê a gostar de comer.
5. Respeite cada fase
Respeitar cada fase até os 2 anos incentiva o apetite infantil. Sem os
dentes não tiverem nascido, o bebê consegue apenas ingerir papinhas
pastosas, preparadas com alimentos amassados (jamais batidos no
liquidificador). Depois disso, a consistência deve caminhar gradualmente
para uma sopa pedaçuda. Entre os 8 e 9 meses de idade, já é possível
oferecer alimentos macios em pedaços. Carnes podem ser moídas, picadas
ou desfiadas. Quando a mastigação não é estimulada, a criança tende a
não aceitar saladas, carnes em pedaços, frutas e alimentos que exijam
mais, principalmente os que são boas fontes de proteínas e fibras.
6. Ofereça muita água
Acostume seu filho a beber água ou ele poderá crescer sem esse hábito. A
água é muito importante na infância para ajudar no bom funcionamento do
intestino e diminui o risco de problemas como dores de cabeça e
musculares, dificuldade na digestão e sobrecarga nos rins. Não existe
uma recomendação médica específica sobre a quantidade, mas ofereça
depois das refeições - nunca durante - e entre elas. Faça o mesmo com os
sucos. Com o tempo, a própria criança aprenderá a indicar que está com
sede.
7. Evite as guloseimas
Evite açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas,
salgadinhos e outras guloseimas sempre, mas, principalmente, nos dois
primeiros anos. São alimentos de grande valor calórico e sem nenhum
nutriente, além de não acrescentarem nada ao organismo. Muitos contêm
aditivos químicos. Um bebê criado saudavelmente vai entender que a
sobremesa é fruta, e não doce. Mesmo que mais para a frente tenha
contato com as guloseimas, a criança terá outra relação com elas.
8. Deixe a criança comer o quanto quiser
Até os 2 anos, ela tem a capacidade de saber exatamente quando está
saciada e obedece a essa ordem do organismo. Se os pais insistem para
que ela se alimente mais, acabará fazendo isso para agradá-los e corre o
risco de perder tal habilidade. Não saberá mais distinguir quando a
fome acabou. Com o tempo, seu estômago pode dilatar, aumentando o risco
de se tornar uma pessoa obesa.
9. Observe o quanto seu filho come
Cuidado com o quanto oferece de comida. Uma grande quantidade pode
assustar a criança e até desestimular seu apetite. A tendência do adulto
é fazer o prato semelhante ao seu, esquecendo que o estômago infantil é
menor - a capacidade gástrica de um bebê de 1 ano, por exemplo, é de
250 ml, enquanto a de um adulto é de 1,3 mil ml. Para não exagerar,
observe durante algumas semanas o quanto seu filho come. Em alguns dias,
ele come mais e, em outros, menos, mas você notará que existe uma
quantidade-padrão que pode servir como referência.
10. Mantenha os mesmos horários de refeição
Isso ajuda na organização do metabolismo da criança, que conseguirá
entender melhor as sensações de fome e saciedade. A atitude também vai
ajudar na rotina de casa: fica mais fácil saber a hora de ir para a
cozinha preparar o almoço ou a antecedência necessária para fazer
compras. Sem falar que os pais também conseguem administrar melhor o
tempo e estar presentes na mesa com o filho - ou procurar que alguém
adequado esteja.
11. Não force a criança a comer
Tente um pouco, mas não insista. É difícil ver o filho não se
alimentar, mas controle a ansiedade. Guarde a comida na geladeira,
espere meia hora e ofereça novamente. Às vezes, é apenas uma questão de o
apetite estar com horários errados. Se ela recusar novamente, descarte
essa comida e adiante o horário da próxima refeição. Jamais ofereça
doces, bolachas e salgadinhos no lugar do que foi recusado.
12. Ofereça comidinhas para pegar com as mãos
Um jeito de incentivar o apetite do bebê e ainda ajudar o seu
desenvolvimento motor fino é criar comidinhas que possam ser consumidas
com as mãos. Pedacinhos de pão, frutas e legumes picados, carnes
desfiadas, são alguns exemplos do que pode ser oferecido em um pratinho
de plástico. A criança vai se divertir tentando comer sozinha e
associará esse prazer ao ato de se alimentar.
13. Observe a qualidade e a quantidade das refeições
É necessário mudar a imagem de que uma criança saudável é a que come
muito. Os pais têm a sensação de missão cumprida quando o filho limpa o
prato, mas isso não é sinônimo de saúde. Cuidar não é só alimentar mas
também observar a quantidade e a qualidade das refeições. A obesidade
não ocorre porque alguém come demais uma ou duas vezes, e sim porque uma
pessoa come um pouco a mais todos os dias. Não deixe esse costume fazer
parte da sua família.
14. Faça uma refeição com o pequeno
Os pais devem organizar a vida para fazer, pelo menos, uma refeição com
os filhos, não importa qual. Além de observar os hábitos alimentares
dos adultos e tentar imitá-los, a criança também vai aprender que o
horário das refeições pode ser divertido, uma fonte de prazer. Conversas
agradáveis, brincadeiras e, lógico, uma boa comida só ajudam.
15. Não incremente demais os pratos
Adultos podem achar delicioso um bom filé de frango ao molho curry,
mas, com certeza, a criança não. Quando o bebê entra na fase de comer o
mesmo que a família, ao completar 1 ano de idade, isso não significa que
vai apreciar qualquer coisa. Receitas muito elaboradas ou com temperos
mais picantes podem desagradá-lo. O ideal é fazer uma adaptação do que
os pais irão comer. Também não é recomendável estimular sabores
acentuados, pois eles incentivam o desenvolvimento de preferências
futuras que não serão saudáveis. Excesso de sal causa hipertensão,
problemas gástricos e renais, e o açúcar leva ao diabete tipo 2 e
obesidade. Bebês não precisam disso. O açúcar do leite materno (lactose)
tem baixo poder adoçante e adoçar as preparações, mesmo com mel, é
completamente desnecessário e prejudicial.
16. Nada de comer em frente à TV
Resista à tentação de dar comida para a criança na frente da televisão.
Isso se tornará uma prática que a seguirá até a vida adulta. Ela
precisa aprender que o ato de comer é prazeroso e dispensa outras
distrações. Assim, prestará atenção na comida, em seu gosto, sua textura
e, principalmente, saberá quando a fome acabou. Quem se alimenta
realizando outras tarefas come de maneira automática, sem distinguir
quando está saciado e come a mais. Existe ainda a possibilidade de a
criança ficar tão distraída com a tela iluminada que não comerá nada. O
correto é o bebê ter um cadeirão e fazer as refeições à mesa, de
preferência juntamente com a família.
17. Cuidado com o exagero de carboidratos
O excesso pode levar à predisposição de doenças como obesidade e
diabetes. Não só arroz, pão e massas podem ser os vilões. Estudos
recentes mostram que o consumo excessivo de proteínas, especialmente nos
primeiros anos de vida, está relacionado com o desenvolvimento de
obesidade no futuro. O grupo dos alimentos reguladores (legumes e
verduras) é o que deve aparecer em maior número na hora de pensar no
preparo da comida.
18. Improvise na cozinha
Com o tempo, você vai notar que o bebê tem preferências. Aproveite esse
conhecimento quando ele estiver doente - dar o que mais gostam (entre
os alimentos saudáveis) pode ser a única maneira de alimentá-los. Isso
também pode ajudar na hora de introduzir os vegetais: combinado com o
prato preferido, fica mais fácil conhecer o alface, a escarola, o chuchu
etc. Facilite a aceitação improvisando novas maneiras de apresentação. O
ideal é que a criança coma as frutas ao natural, com as mãos. No começo
e para os apetites mais difíceis, vale picar o mamão ou fazer um
espetinho (sem ponta) com morangos e bananas, por exemplo.
19. Respeite o horário de comer da criança
Quando comer fora de casa, seja em restaurantes, seja na casa de
amigos, garanta que o bebê tenha seu horário respeitado. O ideal é
alimentá-lo antes de sair de casa, assim ninguém fica ansioso e
evitam-se choradeiras. A criança não terá paciência para esperar a
chegada dos pedidos e nem sempre apreciará as experiências culinárias do
anfitrião. Há quem resolva o problema com as papinhas prontas. Usadas
uma vez ou outra, elas não são prejudiciais - são feitas com
ingredientes naturais e não possuem conservantes. A longo prazo, não
oferecem a variedade necessária para incentivar o apetite do bebê nem o
carinho que ele merece, recebendo comidinhas feitas na hora e com
alimentos frescos.
20. Tenha paciência, criatividade e tempo
A tendência deles é cuspir a comida, fazer "não" com a cabeça, jogar os
talheres no chão, tudo para brincar com você. Podem rejeitar sabores
novos e os pais não devem desistir - é necessário oferecer pelo de oito a
dez vezes o mesmo alimento até ter certeza de que a criança não gosta
dele. Haverá momentos em que o apetite está ótimo, em outros não, e sem
razão alguma. Um dia vão adorar frango, em outros só vão querer saber da
banana. Não existe uma lógica. Com o tempo, explorar os ambientes e
brincar vai se tornar mais interessante do que comer - o apetite da
criança pode diminuir e é necessário se adequar às expectativas. Quando
isso não acontece, as refeições se tornam momentos de ansiedade e
frustração, um exemplo nada bom para as crianças. Pais que acreditam não
ter a paciência necessária para tudo isso podem delegar a tarefa para
outra pessoa sem a menor culpa, mas devem continuar por perto e cuidar
da alimentação do filho com o mesmo carinho.Fontes
Roseli Sarni, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, em São Paulo;
Victor Nudelman, pediatra e neonatologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo;
Tânia Rodrigues, diretora técnica da RG Nutri Consultoria Nutricional, em São Paulo.
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